08 junho 2009

Unidade 13 e 14 - TP 4

O QUE É LETRAMENTO?

No final do século XX foi imposta a todos os povos a exigência da língua escrita não mais como meta de conhecimento desejável, mas como verdadeira condição para a conquista e cidadania. E foi no contexto das grandes transformações culturais, sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que o termo letramento surgiu, ampliando o sentido do que tradicionalmente se conhecia por alfabetização. (Magda Soares).

A alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia, do conjunto de técnicas para exercer a ate e a ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos.

( Magda Soares)

Kleiman, apoiada nos estudos de Scribner e Colle, define letramento como:

...um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos.

As práticas específicas da escola (aquisição do código escrito e leitura) que forneciam o parâmetro de prática social onde letramento era definido e os sujeitos classificados em alfabetizados e não-alfabetizados passam a ser, diante do letramento, apenas um tipo de prática, de fato, o dominante – que desenvolve algumas habilidades, mas não outras e que determina uma forma de utilizar o conhecimento. Ou seja, a alfabetização é uma prática de letramento.

UMA PESSOA ALFABETIZADA É UMA PESSOA LETRADA?

O letramento inicia-se muito antes da alfabetização, ou seja, quando uma pessoa começa a interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social. Como afirma Freire (1989: 11-12),

(...) A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.

Nesse sentido, se a leitura de mundo precede a leitura da palavra, um indivíduo pode ser letrado, mas não alfabetizado. Por exemplo, um adulto mesmo não sabendo ler e escrever pode pedir a alguém que escreva por ele, dita uma carta, pede a alguém que leia para ele a carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um ônibus etc. Essa pessoa não sabe escrever e não sabe ler, mas já conhece as funções da escrita e da leitura, lançando mão do alfabetizado. Segundo Soares (2000b: 47), essa pessoa é analfabeta, mas é de certa forma, letrada, ou tem certo nível de letramento. O mesmo acontece com crianças ainda não alfabetizadas. Para a autora (ibidem),

Uma criança que vive num contexto de letramento, que convive com livros, que ouve histórias lidas por adultos, que veem adultos lendo e escrevendo, cultiva e exerce práticas de leitura e de escrita: toma um livro e finge que está lendo (...), toma papel e lápis e “escreve” uma carta, uma história. Ainda não aprendeu a ler e escrever, mas é de certa forma, letrada, tem já certo nível de letramento.

Da mesma forma que é possível ter um certo nível de letramento e não ser alfabetizado, um indivíduo pode ser alfabetizado mas não ter um bom nível de letramento. É capaz de ler e escrever, porém, não possui habilidades para práticas que envolvem a leitura e a escrita: não lê revistas, jornais, receitas de médico, bulas de remédio etc., ou seja, apresenta grande dificuldade para interpretar textos lidos, como também, pode não ser capaz de escrever uma carta ou bilhete.

Ser alfabetizado não é condição essencial para ser letrado. É preciso que o processo de alfabetização seja significativo. Soares (2000b: 47) afirma então, que nesse caso, é possível uma pessoa ser alfabetizada, mas não letrada.

Qual O papel do educador na formação de indivíduos alfabetizados e letrados?

Numa sociedade letrada, o objetivo do ensino deve ser o de aprimorar a competência e melhorar o desempenho linguístico do estudante, tendo em vista a integração e a mobilidade sociais dos indivíduos, além de colocar o ensino numa perspectiva produtiva.

O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como prática de um sujeito agindo sobre o mundo para transformá-lo e, para, através da sua ação, afirmar a sua liberdade e fugir à alienação.

É através da prática que desenvolvemos nossa capacidade linguística. Conhecer diferentes tipos de textos não é, pois, decorar regras gramaticais e listas de palavras. Na perspectiva do letramento, a leitura e a escrita são vistas como práticas sociais.

Vargas (2000: 7-8) apresenta uma distinção entre ledores e leitores muito importante quando se fala de alfabetização e de letramento. Segundo a autora,

[...] A estrutura educacional brasileira tem formado mais ledores que leitores. Qual é a diferença entre uns e outros se os dois são decodificadores de discursos? A diferença está na qualidade da decodificação, no modo de sentir e de perceber o que está escrito. O leitor, diferentemente do ledor, compreende o texto na sua relação dialética com o contexto, na sua relação de interação com a forma. O leitor adquire através da observação mais detida, da compreensão mais eficaz, uma percepção mais crítica do que é lido, isto é, chega à política do texto. A compreensão social da leitura dá-se na medida dessa percepção. Pois bem, na medida em que ajudo meu leitor, meu aluno, a perceber que a leitura é fonte de conhecimento e de domínio do real, ajudo-o a perceber o prazer que existe na decodificação aprofundada do texto.

O objetivo de se ensinar a ler e escrever devem estar centrado em propiciar ao estudante a aquisição da língua portuguesa, de maneira que ele possa exprimir-se corretamente, aconselhado pelo professor por meio de estímulos à leitura de variados textos, nos quais serão verificadas as diferentes variações lingüísticas, tornando um poliglota em sua língua, para que, ao dominar o maior número de variantes, ele possa ser capaz de interferir socialmente nas diversas situações a que for submetido.

Cabe ao professor mostrar aos alunos uma pluralidade de discurso. Trabalhar com diferentes textos possibilita ao professor fazer uma abordagem mais consciente das variadas formas de uso da língua. Assim, o professor pode transformar a sua sala de aula num espaço de descobertas e construção de conhecimentos.

A tarefa de selecionar materiais de leitura para os alunos é uma das tarefas mais difíceis. Nessa escolha, são postas em jogo as diferentes concepções que tem cada professor sobre a aprendizagem, os processos de leitura, a compreensão, as funções dos textos e o universo do discurso. Além disso, coloca-se em jogo a representação que tem cada docente não só do desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo dos sujeitos a quem vão dirigidos os materiais, mas também dos interesses de leitura de tais destinatários. Assim, também intervém como variável significativa o valor que o docente atribui aos materiais enquanto recursos didáticos.

Trabalhar com gêneros textuais variados nos permite entender que a escolha de um gênero leva em conta os objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes. Daí decorre a detecção do que é adequado ou inadequado em cada uma das práticas sociais.

Em relação à leitura é fundamental estabelecer quais objetivos pretendemos com esta atividade. Quando temos objetivos claros e verdadeiros, em qualquer experiência de vida, os resultados são melhores. Com a leitura acontece o mesmo: quanto mais os objetivos forem definidos para o aluno, ele irá buscar os materiais adequados e lerá com mais disposição o que lhe é oferecido.

Então, é importante que o professor ajude seu aluno a desenvolver a consciência da importância, não só de ler, como também dos diferentes tipos de leitura. Nós professores temos que tentar conhecer os interesses dos alunos, ter clareza quanto ao que eles sabem e oferecer-lhes materiais e experiências de leitura capaz de mobilizá-los. Quer dizer: tornar a leitura verdadeiramente significativa implica criar nos alunos motivos para ler, ou, em outras palavras, ajudá-los a ter necessidade de ler.