20 julho 2009

ESTILÍSTICA E COERÊNCIA TEXTUAL

Estilística:

Quantas vezes você já ouviu ou proferiu a palavra estilo?

1. Comumente pode ser o modo pessoal de fazer algo;

2. O conjunto de características de um objeto, de uma época;

3. Elegância no jeito de se comportar ou se vestir.

“estilo de vida”, “estilo moderno”, “ter ou não estilo”.

No domínio da linguagem, o entendimento do que seja estilo não é tão simples. Muitas são as tentativas de explicar ou definir estilo.

· O estilo é o resultado de uma escolha dos meios de expressão realizada pelo falante; nesse caso, é a expressão de uma experiência individual;

· O estilo liga-se às intenções do falante, ao efeito de sentido que ele quer produzir;

· A emoção e a afetividade estão presentes no estilo.

“E a Gramática?”

“O que tem a ver com Estilística?”

Estilística não se confunde com Gramática.

Em um ato de fala, o falante tem à sua disposição o material organizado, isto é, a língua, e sua própria expressão, ou seja, a linguagem.

A língua não é uma criação individual, subjetiva, mas a linguagem permite um grau de liberdade que se manifesta no estilo, no idioleto, isto é, na língua de cada indivíduo, com o conjunto de marcas pessoais que constituem sua fala.

A Gramática estuda os elementos da língua, enquanto a Estilística estuda a linguagem que se cria com esses elementos.

Qual a diferença entre estilo e variante linguística? Ou melhor:

Qual a diferença entre estilo e dialeto, se ambos são marcados por traços diferenciadores no universo da linguagem?

Segundo alguns teóricos, a diferença está na intenção do indivíduo no momento da fala. Se esta contém uma carga de expressividade, porque o falante deseja manifestar ou transmitir emoção naquele ato de fala específico, esse fato é matéria da Estilística.

Se, ao contrário, certo indivíduo tem como característica permanente uma forma particular de uso da língua, esse fato constitui um idioleto e não pertence à área da Estilística, mas da Linguística.

A Estilística estuda os valores ligados à sonoridade, à significação e formação das palavras, à constituição da frase e do discurso.

A Estilística estuda os valores ligados à sonoridade, à significação e formação das palavras, à constituição da frase e do discurso.

Você já percebeu que algumas brincadeiras com palavras são o resultado da combinação de sons?

Tente repetir em voz alta, sem “engasgar”, esta sequência:

Três pratos de trigo para três tristes pobres tigres.

Num ninho de mafagafos,

Seis mafagafinhos há;

Quem os desmafagafizar

Bom desmafagafizador será.

Os sons da língua podem provocar sensações ou sugerir impressões. Não só os poetas e escritores lançam mão desse recurso em suas obras, mas também nós, usando no dia-a-dia a linguagem comum, recorremos aos sons da língua para expressarmos nossa emoção e afetividade.

Alguns recursos Estilísticos:

Aliteração

Assonância

Rima

Ritmo

Métrica

Onomatopéia

ESTILÍSTICA DA FRASE E ENUNCIAÇÃO:

A frase é a unidade do texto que, no contexto em que aparece, apresenta uma unidade de sentido. Na linguagem oral, a entoação permite transformar uma palavra em frase. Na escrita, a pontuação indica as pausas, a entoação, a melodia da frase, assim como a sua expressividade.

Enunciação é um ato de produção de

significados, isto é, de entendimento na interação comunicativa, que envolve interlocutor falante - interlocutor ouvinte.

A enunciação produz o enunciado, que traz as marcas da situação, do contexto sócio-histórico, do locutor, do receptor, do referente envolvidos no ato de comunicação verbal.

DISCURSO DIRETO, DISCURSO INDIRETO E DISCURSO INDIRETO LIVRE:

Na loja de tecidos, o cliente perguntou:

Quanto custa o metro deste tecido?

- Nesse momento estamos numa promoção, disse o vendedor, pegando a bobina de tecido. Quanto mais o senhor levar, mais barato fica...

- Então vai desenrolando até ficar de graça!...

Na loja de tecidos, o cliente perguntou quanto custava o metro de um tecido.

O vendedor, pegando a bobina de tecido, disse que naquele momento estavam numa promoção e que quanto mais o cliente levasse, mais barato ficaria.

O cliente então pediu que o vendedor fosse desenrolando a bobina até ficar de graça.

Na passagem do discurso direto para o indireto, são necessárias várias alterações, como:

* Eliminação de dois pontos e travessão ou outros sinais de pontuação;

* Inclusão de palavras que estabelecem relações no próprio contexto lingüístico: de um tecido, em vez de daquele tecido;

* Substituição da 1ª pessoa pela 3ª;

* Substituição das expressões de tempo (e de lugar) correspondentes ao ato de enunciação, como nesse momento por naquele momento;

* Alteração dos tempos e modos verbais para se adequar ao contexto lingüístico, como custa / custasse, estamos / estavam, levar / levasse....

O discurso indireto livre torna mais fluente a narrativa e permite ao leitor penetrar na alma da personagem, cujos pensamentos se tornam visíveis.

Coerência textual:

No texto coerente, não há nenhuma parte que não se relacione com as demais.

Todos os elementos do texto devem ser coerentes.

Vamos mostrar três níveis em que a coerência deve ser observada:

1) COERÊNCIA NARRATIVA;

2) COERÊNCIA FIGURATIVA;

3) COERÊNCIA ARGUMENTATIVA

EXEMPLO DE INCOERÊNCIA NARRATIVA:

-Incoerência narrativa é quando relata algo que o sujeito não tinha competência para realizar:

“Lá dentro havia uma fumaça formada pela maconha e essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa, pois ela era muito intensa.

Meu colega foi à cozinha me deixando sozinho, fiquei encostado na parede da sala e fiquei observando as pessoas que lá estavam. Na festa havia pessoas de todos os tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas, etc.”

Prof.ª Diana Luz Pessoa de Barros. In: Platão & Fiorin – Para entender o texto.

Nesse caso, o sujeito não podia ver e viu. O texto tornar-se-ia coerente se o narrador dissesse que ficara encostado à parede imaginando as pessoas que estavam por detrás da cortina de fumaça.

Coerência figurativa:

É a articulação harmônica das figuras do texto, com base na relação de significado que mantêm entre si.

As várias figuras que ocorrem num texto devem articular-se de maneira coerente para constituir um único bloco temático.

Todas as figuras que pertencem ao mesmo tema devem pertencer ao mesmo universo de significado.

Por ex: Suponhamos que se queira mostrar a vida no polo Norte. Para isso podemos usar palavras como “neve”, “trenós”, “pessoas vestidas com roupa de pele”. O que não se pode é usar palavras como “palmeiras”, “cactos”, “camelos”, “estrada poeirentas”.

Coerência argumentativa:

Quando se defende um ponto de vista deve sustentá-lo até o término da produção textual.

Ex: Se o texto parte da premissa de que todos são iguais perante a lei, cai na incoerência se defender posteriormente o privilégio de algumas categorias não estarem obrigadas a pagar impostos de renda.

A coerência textual tem a ver com a “boa” formação de um texto, ou seja, com a possibilidade de articular as informações trazidas pelo texto com o conhecimento que os interlocutores já têm da situação e do assunto. Se essa articulação for muito difícil ou mesmo impossível, a coerência fica prejudicada ou não se estabelece.

A coerência de um texto não depende apenas da realidade das coisas e do

mundo; coerência é uma característica que pode ser construída também na imaginação, nas possibilidades de “recriar”, por meio de imagens, um princípio de interpretabilidade, um fio condutor para a leitura e a interpretação do texto.

Para o estabelecimento da coerência textual contribuem fatores não estritamente linguísticos, tais como o contexto situacional, os interlocutores em si, suas crenças e intenções comunicativas, o relacionamento social entre eles, além da função comunicativa do texto.

A situação sócio-comunicativa – que define gêneros textuais – fornece critérios relevantes para as decisões sobre a coerência de um texto. Por isso, a coerência também depende do gênero de um texto.

Quando lemos um texto, vamos construindo expectativas a respeito do que virá, em seguida, compondo as imagens que fazemos, como leitores, do mundo textual que esse texto nos propõe.

O equilíbrio entre as informações que já são de conhecimento prévio do leitor e as informações novas que o texto pretende trazer é muito importante para a inteligibilidade do texto.

Se as informações forem predominantemente novas, o leitor terá dificuldade em combiná-las com o que já sabe sobre o tema.

Se as informações forem predominantemente conhecidas, o texto poderá não ter razão de ser por excesso de redundância.

Enfim, é pela coerência textual que se vê – e se faz – a diferença entre um mero amontoado de palavras e um texto.