19 outubro 2009

OFICINA DO DIA 16 e 17/10/2009

OBJETIVOS:

Rever e sistematizar as informações essenciais em torno do uso do texto no ensino da língua ( incluindo a intertextualidade).

Avaliar a prática docente, com relação a atividades ligadas à leitura e à produção de textos.

TP1 e AAA1/ Unidade 03 e 04

Unidade 3: O texto como centro das experiências no ensino da língua

Objetivos da unidade:

1 – conceituar texto ;

2- indicar as razões do estudo prioritário de textos no ensino/aprendizagem de línguas;

3 – reconhecer os diferentes pactos de leitura dos textos.

1- TEXTO

O texto será entendido como uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão." (TRAVAGLIA, Luiz Carlos.Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1997.p.67.)

1- Todas as nossas interações se processam por meio de textos.

2- Texto é toda e qualquer unidade de informação, no contexto da enunciação (expressão,manifestação, declaração). Nesse sentido, os textos aparecem nas mais diversas linguagens, classificando-se em verbais e não-verbais.

3- O texto independe de extensão.

4- O texto verbal pode apresentar-se na linguagem oral ou na linguagem escrita.

5- Leitura é o processo de atribuição de significado a qualquer texto, em qualquer linguagem.

2- DISCURSO

Ao produzirem linguagem, os falantes produzem discursos. Mas o que é discurso?

Podemos definir discurso como toda atividade comunicativa entre interlocutores; atividade produtora de sentidos que se dá na interação entre falantes. O discurso se manifesta linguisticamente por meio de textos. Isto é, o discurso se materializa sob a forma de textos.

3- TEXTUALIDADE

É a condição de um texto. É o que faz um amontoado de frases ou palavras um texto.

É estabelecida pela coerência e não só pela coesão.

ATIVIDADES DO DIA:

●Apresentar as figuras fundo e conceituar leitura, leitor e interlocutor;

●Apresentar a história do Gato Feio e observar: argumentação X narração e intergenericidade X sequência tipológica.

Unidade 4: A intertextualidade

Objetivos da unidade:

1 – identificar os traços da intertextualidade em nossa interação cotidiana;

2 – identificar os vários tipos de intertextualidade;

3 – identificar os pontos de vista nas diversas interações.

INTERTEXTUALIDADE

A intertextualidade é o diálogo de um texto com outros textos:

.Forma

.Conteúdo

.Tipologia

VÁRIAS FORMAS DE INTERTEXTUALIDADE

1-paráfrase

2-paródia

3-pastiche

4-citação

5-epígrafe

6-alusão

7-referência

PARÁFRASE

Quando há uma fusão de vozes em um texto que se identifica com o outro, sem quebrar-lhe a continuidade. É a intertextualidade das semelhanças.

Na paráfrase sempre se conservam basicamente as ideias do texto original. O que se inclui são comentários, idéias e impressões de quem faz a paráfrase. Na escola, quando o professor, ao comentar um texto, inclui outras ideias, alongando-se em função do propósito de ser mais didático, faz uma paráfrase.

PARÓDIA:

A paródia é uma recriação de caráter contestador: ela mantém algo da significação do texto primeiro, mas constrói todo um percurso de desvio em relação a ele, numa espécie de insubordinação crítica que incomoda.

CANÇÃO DO EXÍLIO

Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,.

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossas flores têm mais vidas

Nossas vidas mais amores.

Sem que eu volte para lá;

Sem desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste

as palmeiras

Onde canta o sabiá.

Canção do exílio facilitada

José Paulo Paes

lá?

ah!

sabiá...

papá...

maná...

sofá...

sinhá...

cá?

bah!

CANÇÃO DO EXÍLIO Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras

da Califórnia

Onde cantam gaturamos

de Veneza

Os poetas de minha terra

São pretos que vivem

em torres de ametista

Os sargentos do exército

são monistas, cubistas,

Os filósofos são polacos

vendendo a prestações

A gente não pode dormir

Com os oradores e pernilongos.

Os sururus em família têm

por testemunho a Gioconda

Eu morro sufocado em terra

estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

Nossas frutas mais gostosa

Mas custam cem mil

réis a dúzia

Ai quem me dera chupar uma

carambola de verdade

ouvir um sabiá com

certidão de idade!

CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA Oswald de Andrade

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas

E quase mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra

Ouro, terra , amor e rosas

Eu quero tudo de lá

Sem que eu volte pra

São Paulo

Sem que eu veja a rua 15

E o progresso de São Paulo

RETIFICAÇÃO Cláudio Herman Portugal

As palmeiras derrubaram

Para no lugar

construírem auto-estrada

O sabiá ganhou

um festival nos idos de 68

Mas está sendo

rapidamente exterminado

Ou anda preso em alguma

gaiola

O exílio de minha terra

deixou de ser uma canção

CACASO

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o tico-tico

Enquanto isso o sabiá

Vive comendo o meu fubá

Ficou moderno o Brasil

Ficou moderno o milagre:

A água já não vira vinho

Vira direto vinagre

Carlos Drummond

Meus olhos brasileiros

se fecham saudosos

Minha boca procura

a ‘’Canção do Exílio’.

Como era mesmo

a ‘’Canção do Exílio’’?

Eu tão esquecido de

minha terra...

Ai terra que tem palmeiras

Onde canta o sabiá!

Cassiano Ricardo

Esta saudade que fere

Mais do que outras quiçá

Sem exílio, nem palmeira

Onde canta o sabiá...

Flávio Almeida

Minha terra tem paineira

na praça do grupo escolar,

que na meninice arteira

um dia cismei de plantar.

Cuidei-a, qual jardineiro,

a vi crescer, se esgalhar,

e em seu porte altaneiro

flores róseas a esbanjar.

Minha árvore regateira,

verdejante a sombrear,

farta paina sementeira

deixa ao vento vaguear.

Em trabalho prazenteiro

pus-me paina a ajuntar,

fiz macio travesseiro

para a cabeça pousar.

Em fibra de seda faceira,

quero dormir e sonhar.

Pluma, lã: a alma inteira,

leve, enfim, descansar.

Mônica Regina Eusébio

Meu amigo Gonçalves Dias,

recebi sua linda Canção do Exílio e de imediato me senti na obrigação de escrever-lhe a

CANÇÃO DA REALIDADE:

Na minha terra acabaram com as palmeiras

E mataram os sabiás

As aves que aqui gorjeiam

São mortas quando gorjeiam cá

Em nosso céu poluído não consigo ver as estrelas

Em nossas várzeas há

muito indivíduo desabrigado

dormindo,

nossos bosques não são

mais verdades.

há muitas casinhas de madeira

pergunto-lhe:

onde anda o amor de

nossas vidas?

Não permita Deus que

volte meu amigo Dias,

Para que sua morte não

seja de desgosto

E não desfrute de uma

grande dívida externa.

Além da ditadura civil

que não encontrava lá

Não volte Dias ,

para não saber do fim das

Palmeiras e dos sabiás.

Canção do exílio às avessas

Jô Soares

Minha Dinda tem cascatas

Onde canta o curió

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Minha Dinda tem coqueiros

Da Ilha de Marajó

As aves, aqui, gorjeiam

Não fazem cocoricó.

O meu céu tem mais estrelas

Minha várzea tem mais cores.

Este bosque reduzido

deve ter custado horrores.

E depois de tanta planta,

Orquídea, fruta e cipó,

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Minha Dinda tem piscina,

Heliporto e tem jardim

feito pela Brasil's Garden:

Não foram pagos por mim.

Em cismar sozinho à noite

sem gravata e paletó

Olho aquelas cachoeiras

Onde canta o curió.

No meio daquelas plantas

Eu jamais me sinto só.

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Pois no meu jardim tem lagos

Onde canta o curió

E as aves que lá gorjeiam

São tão pobres que dão dó.

Minha Dinda tem primores

De floresta tropical.

Tudo ali foi transplantado,

Nem parece natural.

Olho a jabuticabeira

dos tempos da minha avó.

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Até os lagos das carpas

São de água mineral.

Da janela do meu quarto

Redescubro o Pantanal.

Também adoro as palmeiras

Onde canta o curió.

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Finalmente, aqui na Dinda,

Sou tratado a pão-de-ló.

Só faltava envolver tudo

Numa nuvem de ouro em pó.

E depois de ser cuidado

Pelo PC, com xodó,

Não permita Deus que eu tenha

De acabar no xilindró.

PASTICHE

Procura aproveitar a estrutura , o clima, determinados recursos de uma obra.

CITAÇÃO

Quando se coloca em um texto um conjunto de fragmentos de outros textos. O segundo texto procura deixar claro o texto original. No caso do texto verbal, o autor do original é indicado.

EPÍGRAFE

Tem as mesmas características da citação, mas tem localização fixa: aparece sempre como abertura do segundo texto.

REFERÊNCIA

É a lembrança de passagem ou personagem de outro texto;

ALUSÃO

É o aproveitamento de um dado de um texto, sem indicações ou explicitações.

Como realizar a intertextualidade?

A competência em leitura e em produção textual não depende apenas do conhecimento do código linguístico. Para ler e escrever com proficiência é imprescindível conhecer outros textos, estar imerso nas relações intertextuais, pois um texto é produto de outro texto, nasce de/em outros textos.

A essa relação (que pode ser explícita ou implícita) que se estabelece entre textos dá-se o nome de intertextualidade. Ela influencia decisivamente, como estamos afirmando, o processo de compreensão e de produção de textos.

Quem lê deve identificar, reconhecer, entender a remissão a outras obras, textos ou trechos. As obras científicas, os ensaios, as monografias, as dissertações, as teses, por exemplo, remetem explicitamente a autores reconhecidos, que corroboram os pontos de vista defendidos. A compreensão de uma charge de jornal implica o conhecimento das notícias do dia. A leitura de um romance, conto ou crônica aponta para outras obras, muitas vezes de forma implícita.

Nossa compreensão de um texto depende assim de nossas experiências de vida, de nossas vivências, de nosso conhecimento de mundo, de nossas leituras. Quanto mais amplo o cabedal de conhecimentos do leitor maior será sua competência para perceber que o texto dialoga com outros, por meio de referências, alusões ou citações, e mais ampla será sua compreensão.

As referências são muitas vezes facilmente perceptíveis, identificadas pelo leitor. Por exemplo, no anúncio publicitário sobre meias "Os fins justificam as meias", o leitor percebe de imediato a recriação da máxima "Os fins justificam os meios". Há, por outro lado, referências, alusões muito sutis, compartilhadas ou identificadas apenas por alguns leitores, que têm um universo cultural, um conhecimento de mundo muito amplo. O texto a seguir ilustra o que foi dito.

ATIVIDADE 1:

Cada grupo irá produzir um texto empregando nomes de:

1.Perfumes

2.Carros

3.Times de futebol

4.Cidades

5.Grifes

6.Filmes

7.Eletrodomésticos

8.Cursinhos

9.Bebidas

10.Programas de TV

ERA UM FUSCA

Era um fusca muito engraçado

Não tinha dono, não tinha nada

Ninguém queria andar nele não

Porque volante não tinha não

Ninguém queria encostar nele

Porque o fusca dava coceira

Ninguém podia fazer “Bi Bi”

Porque buzina não tinha ali

Mas era feito de lata velha

E fica exposto no ferro velho.

Autoras: Dayhana, Eliane, Lediane.

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Dizem que o seu Conexion

Voa mais que um

Fórmula 1. dizem que seu

Capricho, só tem cheiro de mel.

Vai seduzir Portinari em

Plena floresta fechada.

Autores: Iranildo, Marina, Jaqueline.

CEVADA QUALQUER

Brahma nas prateleiras,

Cristal nas geladeiras,

Sol: Kaiser, Polar.

A Skol desce redondo

A Antarctita é uma boa

Um copo mando buscar

Beber...degustar, cantar

Eta vida Bohemia, Meu Deus!

Autores: Edivino, Sandra e Marciane.

XOTE PEDAGÓGICO

Eu quero educar

Eu quero educar

A sala é uma bagunça

Não dá pra concentrar.

O professor se esforça

Não dá pra trabalhar

O salário é uma merreca

Não dá nem pra comprar

O leitinho do neném que não

Pára de chorar.

Eu quero educar

Eu quero educar

Ai meu Deus do céu

Quando isso vai mudar

Até a bananinha, tem que comer lá

No Gestar.

Cadê o meu salário cobrador comeu

Cadê o meu certificado a troça comeu

A minha hora atividade o governo não deu.

E nem um professor ele reconheceu.

Autores: Lucinéia, Alexsandro, Raimunda.

Atividade da oficina:

Em grupo de três cursistas, planejar uma atividade de leitura e produção de texto a partir da leitura da fábula: A língua.

Algumas perguntas para orientar a interpretação dos alunos:

A- Como preparação para a leitura, podem ser feitas perguntas como: Você já ouviu falar em fábula? Conhece alguma? Qual? Como você sabe que um texto é uma fábula?

B- Pelo título da publicação, percebemos tratar-se de uma fábula. Mas ela apresenta algumas diferenças em relação às fábulas mais comuns. Quais são elas?

C- A moral da fábula, de todo modo, aparece nesse texto. Onde se encontra?

D- Como se contrastam as personagens da história?

E- A personagem que finaliza a fábula é, pela tradição, adequada para ter a fala final?

Sugestão para a produção de textos dos alunos

É obvio que as possibilidades de sugestão são as mais variadas. Sugerimos algumas, como forma de ampliar esse universo, mas as propostas dos cursistas não serão desconsideradas.

A língua é uma metáfora da palavra. Se seus alunos são de 1ª fase, proponha- lhes a criação de uma história (uma fábula moderna, talvez) em que fiquem claros os poderes tão distintos da palavra. Discuta com eles como será a leitura das suas produções.Poderia ser criado um álbum/livro, com as melhores histórias, ou com todas, depois de avaliadas e reescritas. Poderiam ser feitas ilustrações, que criariam intertextualidade com os escritos.

Para as turmas de 2ª ou 3ª fase , sugerimos que realize uma sessão de cinema, em que seus alunos assistiriam ao filme Central do Brasil. Trabalhe com eles , no decorrer do filme , o longo processo de transformação da professora aposentada Dora, a partir de uma dolorosa substituição gradual de pontos de vista. O filme é um primor, nesse aspecto.

Depois do debate sobre o filme, os alunos podem fazer um comentário escrito, a ser exposto no mural da escola, ou um cartaz de propaganda, convidando as famílias a verem o filme.

RELATÓRIO DO ENCONTRO:

Nos dias 16 e 17/10/2009 realizamos a 2ª oficina do TP1 e também finalizamos o estudo deste TP. Participaram do encontro 15 professores cursistas. No primeiro momento fizemos um estudo das duas últimas unidades deste TP que tem como foco o estudo do texto e a intertextualidade. O resumo acima foi o ponto de discussão do encontro.

No 2º momento os professores produziram um texto em coletivo como sugeria a atividade um. Após a elaboração textual todos expuseram seus trabalhos. E os textos seguem editados abaixo.

No 3º momento desenvolvemos a atividade do TP das páginas 172 e 173. O objetivo foi desenvolver uma atividade de leitura e produção textual e aplicar em sala de aula nos próximos 15 dias, trazendo o resultado para o próximo encontro. A turma foi dividida em grupo de três integrantes e a série para a aplicação da atividade foi o 1º ponto a considerar no planejamento da aula. Para auxiliar o grupo apresentamos a sugestão de perguntas e atividades de produção descrita acima. Concluindo, cada grupo apresentou sua proposta de trabalho para a os demais e todos puderam sugerir melhoras. No próximo encontro faremos a avaliação das atividades trabalhadas em sala de aula.

O último momento foi destinado a comentários sobre a oficina e apresentação do próximo assunto, ou seja, o estudo das duas primeiras unidades do TP2.