18 novembro 2009

MEMORIAL DE LEITOR

Memorial de leitor
Luciana Ledo Peres Ruis
Juina- MT
MEMORIAL DE LEITOR
Aos sete anos ingressei numa escola rural. Até, então, o contato com a leitura era inexistente. De família humilde, pouco contato tinha com os livros. No dia da distribuição das cartilhas em sala de aula, o professor chamou aluno por aluno à sua mesa e propôs a leitura de um pequeno texto dessa cartilha. Porém, para levá-la precisava acertar toda a lição. Eu errei algumas palavras e não pude levar a cartilha. Tamanha foi a minha tristeza! Hoje sei que a atitude do professor estava completamente equivocada. O tempo passou, concluí o primário. Nas escolas que estudei, não tivemos acesso aos livros de literatura infantil. As professoras também não contavam historinhas. Não havia incentivo às práticas de leitura. Quando iniciei a 5ª série a quantidade de livros didáticos aumentou e podíamos ler mais. Mesmo assim não visitávamos biblioteca na escola, melhor nem biblioteca tinha. Foi assim até a 8ª série. No ano de 1992 comecei a cursar o magistério e foi nesse período que o contato com a leitura e também o gosto se efetivou. Tive uma amiga que me dizia da importância da leitura em minha vida, já que pretendia ser professora. E foi ela quem me emprestou o primeiro romance: “Se Houver Amanhã de Sidney Sheldon”. Amei esta literatura, chegava tarde da escola e me deliciava com cada capítulo lido. Meu pai ralhava, dizendo que já era tarde e hora de dormir, mas isso não me incomodava, queria logo chegar ao final daquela história tão envolvente. Com o gosto formado e o acesso aos livros mais fácil, percebi que as escolas por onde já havia passado negaram a mim e a tantas outras crianças e adolescentes o contato com este mundo maravilhoso e encantado da leitura. Por isso, trabalho com a leitura constantemente, e hoje como tutora do programa Gestar II discuto com os professores cursistas a relevância deste trabalho na escola. E percebo que muitos profissionais demonstram essa preocupação com seus alunos e incluem a leitura diariamente em suas turmas. Era preciso recuperar o tempo perdido e foi o que fiz. Lia constantemente os livros disponíveis na escola. Lembro com saudades dos romances “Sozinha no Mundo”, “A Ilha Perdida”, “Meu pé de laranja-lima”, e tantos outros que não lembro o nome. E, à medida que o tempo passava, as leituras se ampliavam. Agora meu interesse era pelos clássicos da literatura. Li Dom Casmurro, mas não compreendi a leitura da primeira vez. Reli e então descobri o que Machado de Assis, com mãos habilidosas e pensamento refinado colocara naquelas páginas. Depois foi a vez das obras de Jorge Amado tomar conta da minha vida de leitora. Saboreei “Capitães da Areia”, “Dona Flor e seus dois maridos”, “Gabriela, cravo e canela” e “Mar morto”. No segundo ano de faculdade foi montado uma mini-biblioteca em nossa sala de aula. Podíamos fazer empréstimos dos livros. Como era bom! Foi a época que tive maior contato com os livros. Nesse período já lecionava, então, lia para meus alunos histórias infantis e lia romances: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Moreninha, Amor de Perdição, O Mulato, O Cortiço, Memórias de um Sargento de Milícias, O crime do Padre Amaro, Iracema, O Guarani, Senhora, Memorial de Maria Moura, Vidas Secas e tantos outros. Porém, até hoje não consegui ler Grande Sertão veredas. Um dia conseguirei. Após a faculdade continuei minhas leituras de romance, mas um colega meu disse que já não poderia me prender tanto a leituras de romance. Era preciso ler livros técnicos, específicos da área e da profissão. Pensei sobre o que me disse e comecei a ler os livros sugeridos por ele. No começo esta leitura não era prazerosa como a outra, mas logo me acostumei. Li muito sobre avaliação escolar, currículo, escola ciclada, letramento, e outros assuntos pertinentes à educação. Quando tive meu primeiro filho procurei ler sobre a gravidez e os cuidados com o bebê. Aprendi muito com essas leituras. Hoje retomei estas leituras, pois espero meu segundo filho. No ano passado li para meus alunos A casa da madrinha e A bolsa amarela de Lygia Bojunga . Amo essa escritora. Mas não fiquei restrita só a esses livros. Li muitos outros para eles e com eles. Percebi que com o tempo a leitura de romances, aquela que eu fazia sozinha em meu quarto, da época de faculdade, não me cativa mais. Outras leituras me encantam hoje. Amo as revistas: Caros Amigos, Ciências Hoje, Cláudia. Gosto dos livros que tratam de assuntos da minha área. Às vezes sinto saudades dos romances. Quero voltar a lê-los!

Vejo a leitura como fonte prazerosa de conhecimento. Hoje ela faz parte da minha vida e jamais a abandonarei. Amo ler.